terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Beleza Incontestável

Segui pelo caminho enfeitado pelos esguios espetos metálicos, todos são iguais, criados uns á semelhança dos outros, não têm uma única diferença  entre si, todos têm a mesma altura, as mesmas esferas de vidro e todos são negros como o carvão.
Decidi seguir em frente, olhei para o Sol bem alto no céu e segui para onde irá descer e tocar as grandes águas frias, onde acabará por mergulhar e dar lugar á sagrada Lua.
Enquanto percorro o caminho cinzento reparo num grande elemento que não havia dado conta da sua presença. Recordo a existência de árvores, enxames, quase intermináveis, seguidas umas ás outras, em que em certas zonas, quase não existia espaço entre elas. Pinheiros, carvalhos, choupos, todo um misto de raças, todas elas verdejantes.
Agora no seu lugar, vejo um muro negro, que cobre tanto o lardo esquerdo, como o lado direito da minha visão, duas linhas paralelas que se extendem até ao fim do visível, sendo maior que os eucaliptos metálicos. Do outro lado não consigo avistar nada, apenas o céu azul com umas pinceladas de nuvens que completam a figura celestial.
Um muro que me relembra aldeias e vilas do norte, pelas quais vagueei no passado, vilas do meu reino. Esses muros, compostos por finas fatias de rocha negra, sobrepostas sobre milhares de outras tantas semelhantes. Todas são irregulares, formando um padrão natural tanto equilibrado pela sua solidez da constucção, como caótico pela cor das rochas e pelas suas falhas. Esses grandes muros que passaram despercebidos aos meus olhos ainda naucateados têm também algo que nunca vi na minha breve vida. Pequenas trepadeiras, finas, acompanham todo o seu comprimento, de tantos e tantos passos, florescem um tipo de lírios vermelhos, mas não são lírios comuns, aliás, são como nunca vi, têm uma forma característica, inimaginável para a mente humana. Desafia o conceito conhecido de natureza pelos sábios.
As suas pétalas são formadas umas das outras, como se ao nascerem fossem torcidas uma a uma, apresentam uma composição que parece arcana, não parece natural. A sua cor que se assemelha ao fogo, tendo tons de laranja, ocre e vermelho, porém não possui o aspecto do fogo, mas talvez o aspecto da areia ao fundir. Uma cor hipnotizante, só o que consigo descrever.
Ao desviar a atenção das maravilhosas flores, continuo a percorrer o caminho cinza, e quando volto a focar a atenção ao meu destino, quase que colido com algo negro e enorme. Outro muro igual ao que estava a observar. Percebi que cheguei ao fim do caminho. Os cinco passos que senti ter dado enquanto admirava as chamas florais, foram na realidade, mais de duzentos, já nem consigo avistar a fenda no caminho onde estava a "Sabedoria" enterrada.
Cheguei agora a um cruzamento, onde posso escolher continuar a minha procura de repostas, pela esquerda ou pela direita. Posso também voltar para trás.
Analizo ambas as hipóteses, e percebo que estou numa espécie de labirinto, ambos os caminhos são semelhantes, os dois seguem em frente, e depois curvam na sua direcção. Os muros são exactamente iguais, em ambos os lados também. Quem seria a mente que havia desenhado este lugar?
Optei pela esquerda, pois algo me diz que irei encontrar vida por este lado. Afasto-me do muro central e desloco-me em direcção á ala esquerda. De passos serenos vou pisando o tapete cinzento, que ao fim de alguns minutos se mantém igual, que insanidade. Sinto que quanto mais ando menos me movo. O Sol agora desloca-se para a direita, já vai a mais de meio do seu percurso, e eu ainda nenhuma reposta tenho sobre o meu paradeiro.

Passado algum tempo a caminhar, enquanto o aborrecimento se vai apoderando da minha boca, começo a notar uma diferença nas flores fogosas dos muros... Não percebi que haviam mudado de cor. Agora em vez de vermelhas e ardentes, são azuis e frias, lembrando água, como que gotas suspensas nas eras. A sua forma agora em vez de ser torcida e espicaçada é arrendondada e volumosa, como ameixas. Um azul profundo com ligeiros detalhes brancos e indigo. Estas não hipnotizam, pelo contrário arrefecem só de olhar, a minha armadura que era suportável agora parece ser feita de gelo...
Vou caminhando mais um pouco e ao fim da curva vejo algo erguido sobre um o que parece ser água flutuante?
Á medida que me aproximo, vejo que se trata de uma estátua... Uma beleza... Uma beldade... Uma mulher nua!

Fico desconfortável com aquela presença... O frio que há segundos sentira aquece aceleradamente. A minha cara começa aquecer ainda mais, sinto as faces ficarem coradas... Sinto-me envergonhado... Ainda não tinha contemplado a beleza de uma mulher nua.. Sinto-me uma criança a olhar para um castelo enorme...
A mulher veste um pequeno sorriso que faz tremer os meus joelhos, ouça a minha armadura tilintar..
Ela tem o cabelo preso no cimo da nuca, as suas mãos estão posicionadas delicadamente nos ombros, tocando-lhes com as costas dos dedos enquanto que uma toca apenas com as pontas dos delicados dedos..
Os seus seios arredondados e naturalmente soltos... Que beldade...
As suas pernas estão ligeiramente inclinadas, ficando com os joelhos um pouco saídos... Quase que se move, e a sua graciosidade é inocente..
Mas o que estou eu a dizer?? Uma mulher não deve estar nua assim! É uma indelicadeza uma mulher tão bela se expor a quem quiser observá-la!

Sinto algo na minha armadura se expressar por mim... Algo que me gera um conforto desconfortável... Como se fosse uma sensação prazerosa e atormentadora..

Abano a cabeça e nego! Não devo deixar-me levar pelos desejos carnais! É uma estátua e eu sou um cavaleiro! Devo manter a honra! Afasto-me lentamente sempre olhando nos olhos da mulher. Quando começo a deixar de a avistar acalmo, e encosto-me ao muro...
Que cenário... Não é correcto pensar o que pensei... Vou continuar a minha busca por respostas, e desta vez não serei enganado pelos meus desejos.. Sinto que o conforto já despareceu. Volto a erguer-me e começo a dirigir-me ao cruzamento.

Algo me diz que esta espécie de labirinto irá enlouquecer-me.. Não posso perder-me da "Sabedoria" novamente..

15 comentários:

  1. A destreza e habilidade com que escreves pode ser considerada por muitos uma arma que invade o nosso peito e preenche a nossa mente com sensações que transmites para o papel. Aguardo pelo próximo, como sempre. :)

    ResponderEliminar
  2. Uma optima escrita, gostei bastante do texto.
    Consegue sem dúvida deixar uma pessoa deixar-se levar com a sua escrita parabens :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado, é isso que tento fazer em cada publicação que faço :)

      Eliminar
  3. Respostas
    1. Obrigado, Obrigado outra vez :) Espero continuar a agradar :D

      Eliminar
  4. Bem vindo ao blog.. Adorei o que escreveste :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigadooo :D Ainda bem que adoraste, tentarei continuar a fazê-lo

      Eliminar
  5. Acho que realmente tu sabes escrever e abusas desse privilégio! Porém gostava que saísses um bocado desse registo e fizesses textos um bocado menores. Não quero que leves a mal mas achei que devia ter menos descrição em algumas partes do texto. Estou-te a seguir porque quero ficar a par dos próximos! Beijinhos* (Desculpa a sinceridade)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não faz mal ;) agradeço sinceridade e honestidade acima de tudo, acho que fingir que se gosta, não me iria ajudar em nada :P Este também foi maior, porque o desenvolvimento assim o tornou, não queria dividir a acção deste em duas partes, depois quem lê podia ficar meio insatisfeito. Obrigado :D espero estar á altura de continuar a agradar :D

      Eliminar
  6. Bem vindo a blogoesfera, gostei muito do que escreveste

    ResponderEliminar
  7. O teu texto tem a capacidade de nos prender ao ecrã, muito bom! Não foi uma perca de tempo passar aqui, adorei e sê bem vindo!

    ResponderEliminar
  8. A-D-O-R-E-I! mesmo!
    estou a seguir o blog, vou ficar atenta :)
    beijinhos!

    ResponderEliminar
  9. Adorei o teu texto :')
    Vou seguir sem dúvidas!
    Beijinhos *

    ResponderEliminar
  10. bem-vindo, tens imenso talento, as tuas palavras prendem-nos sem dúvida :) irei voltar a passar por aqui. um abraço.

    ResponderEliminar